Por falta de consenso, o Mercado Comum do Sul (Mercosul) deve continuar sem presidente durante os próximos seis meses – o período de duração da presidência pro-temporevenezuelana, que vem sendo questionada pelo Brasil, a Argentina e o Paraguai. O Uruguai é o único dos quatro membros fundadores do bloco regional disposto a entregar o cargo rotativo (que ocupou durante um semestre, até o fim do mês passado) ao pais seguinte, obedecendo a ordem alfabética: a Venezuela. A segunda reunião em menos de uma semana, para tentar resolver a crise institucional, terminou nessa terça-feira (23) sem um acordo.
A delegação venezuelana, convidada a participar desse segundo encontro – que a exemplo do primeiro foi realizado na capital uruguaia, Montevidéu – não compareceu. Ao final, o vice-chanceler do Paraguai, Rigoberto Gauto, deu uma breve declaração, em nome dos demais. Segundo ele, foram discutidas várias propostas, que ainda serão examinadas pelos ministros das Relações Exteriores de todos os países. Enquanto não houver consenso sobre quem preside o Mercosul, o bloco deve limitar suas atividades. Na prática, estará paralisado.
O governo venezuelano assumiu a presidência do bloco à revelia dos governos brasileiro, argentino e paraguaio – apesar de a tradicional cúpula para a transmissão do cargo ter sido cancelada. Na semana passada, a ministra das Relações Exteriores venezuelana, Delcy Rodriguez, viajou à Índia e anunciou (em nome do bloco) que o Mercosul vai expandir o acordo de livre comércio assinado com aquele país em 2009.
Para o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, não há nada a ser discutido. Segundo ele, o país – último a aderir ao bloco regional – está sendo vítima de uma “tríplice aliança”, que ele comparou a outra (a chamada Operação Condor), forjada nos anos 70 por ditadores do Cone Sul para perseguir opositores aos regimes militares.
O Brasil apresentou um argumento jurídico para não entregar a presidência do Mercosul à Venezuela: o país tinha quatro anos para incorporar as normas do Mercosul. O prazo venceu no dia 12 de agosto e a Venezuela não conseguiu cumprir todos os requisitos para se tornar um membro pleno. Os venezuelanos enfrentam hoje profunda crise, com desabastecimento, inflação de três dígitos e saques a supermercados, além da campanha da oposição para realizar um referendo revogatório e destituir Maduro antes do fim de seu mandato em 2019.
Fonte: Hosteltur