Afinal, quem representa a hotelaria no Brasil?

21/10/2015

Já conversamos com vários hoteleiros nos últimos meses e alguns deles cobram uma posição sobre a representatividade do setor nas esferas políticas. O objetivo claro é mostrar que a hotelaria é responsável em empregar milhares de trabalhadores, movimentar a economia com investimentos imobiliários, econômicos, além de ser a casa dos turistas internacionais que vêm para cá com ímpetos comerciais ou de lazer.
Para exemplificar, existem atualmente várias entidades associativas que representam os mais de 25 mil meios de hospedagens brasileiros. Exemplos como a ABIH Nacional (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis), FBHA (Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação), FOHB (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil), ABR (Associação Brasileira de Resorts), além de outras dezenas de associações isoladas como de pousadas, hotéis, etc.
Escutamos há vários anos que os hoteleiros são desunidos, cada um por si e todos por ninguém. Que na hora do vamos ver, cada um vai pro seu lado e que se danem os acordos e as tarifas.
Na semana passada, durante um evento em São Paulo, a pauta voltou à tona com a afirmação que o País não tem índices e números para saber o que acontece verdadeiramente no mercado. Que o planejamento se torna difícil porque são poucos os hoteleiros que divulgam suas taxas acumuladas de ocupação e de diária média entre si, favorecendo entre todos a análise para onde se ir.
Os navios não saem do porto sem suas cartas náuticas, sem a projeção das rotas. Um edifício não é construído sem as plantas da edificação e sem os cálculos da resistência dos materiais, para ver se suportam o próprio peso. Uma equipe de Fórmula 1 não consegue competir se não tiver todo o histórico dos treinos e da performance de seus carros e, principalmente, se deixar de acompanhar os concorrentes, para saber como as curvas são conquistadas por eles.
Por sua vez, os hotéis não podem atuar sem saber dos índices que se transformam no histórico de suas performances, e que junto com os números de seus concorrentes, podem nortear as ações e estratégias para que se atinjam os objetivos. Afinal, são poucos os empreendimentos que são destinos, e em 95% dos casos, os clientes escolhem primeiro o destino, só para depois pensarem na hospedagem.
Talvez seja pela falta dessa união que tantas associações tenham sido criadas ao longo dos anos, cada uma indo atrás de seus próprios interesses. O fato do País ter um tamanho continental também dificulta um pouco a centralização dos esforços. Mas, tomando-se por exemplo os Estados Unidos, lá existe uma única associação, a AH&LA (American Hotel & Lodging Association) que representa todos os meios de hospedagem daquele país.
A união faz a força, e são poucos os hoteleiros que já têm consciência disso.
A hotelaria brasileira tem um caminho longo para poder se desenvolver de uma forma coesa. Exemplificamos com a construção de alguns meios de hospedagem, isentando as redes e alguns empreendimentos independentes que trabalham da forma correta, realizando antes de construir, um estudo de viabilidade, sabendo para que público irão trabalhar ou mesmo se vale a pena construir ou não. Depois trabalham com um plano específico, sabendo quanto custa uma unidade habitacional vazia ou ocupada. Sabem dos detalhes de até quando vale negociar. Sabem que não podem despejar a maioria de seus apartamentos disponíveis para uma operadora offline ou online. Têm consciência que precisam capacitar e valorizar seus colaboradores, pois são eles que recepcionam e acolhem os seus hóspedes.
Os hoteleiros que não acolhem seus colaboradores, que por sua vez não têm incentivo para acolher os hóspedes, deveriam sair do mercado. Saiam para abrir negócios que não dependam de ninguém. O primeiro objetivo de um hoteleiro é acolher sua clientela, os resultados vêm depois. O cifrão tem que ser colocado em segundo plano. Pois quando se coloca o money acima de tudo, todo o resto fica descartável.
Afinal, para qual finalidade é construído um meio de hospedagem?
Felizmente existem hoteleiros que sabem a resposta. O hotel serve para receber os clientes, oferecendo um lugar onde sejam bem acolhidos, que possam descansar e restaurar suas energias, ou que possam se reunir, trabalhar e fechar negócios. Que venham em grupos ou sozinhos, que realizem festas sociais, de casamento ou que vinham simplesmente para ficar estirados em suas camas, sem fazer nada.
Voltando para o tema, para finalizar, a própria ABIH, que está em vias de completar 80 anos de atividade, fatiou todo o interesse nas ABIH’s estaduais que estão atrás dos interesses locais. É preciso pensar grande, é preciso de uma vez por todas trazer a seriedade para ser o foco principal da atividade. Vamos copiar modelos que funcionam lá fora para criar uma categoria que seja valorizada e que tenha força para impor regras e condições. É preciso entender que a união faz a força e que ela move as engrenagens. É preciso ter uma classe para que o próprio governo saiba com quem falar. Chega de criar associações em prol de poucos.

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